sexta-feira, 27 de julho de 2012

Entrevista (ou melhor: entreolhada) [melhor ainda: entrelida]

— Qual sua meta de vida?

— É ter uma meta de vida.

— E depois, afinal, qual seria a meta? 

— Ter uma met|ade vida.

— Você metade/zendo que não tem meta?
 
— De morte eu tenho. Que é alcançar a vida de novo, se é que me entende.

— Está dizendo que acredita em vida a pós?

— Do vieste, ao voltarás.

— Quais seus lemas?
  
— 'Lê, mas entende.'
  
— Qual é sua meta, fora a de morte?
 
— A metáfora, de não existir, um dia, ser uma coisa sem ser.

— Seriam tais pensamentos suicidas?

— Sui-generis, digo eu.
  
— Qual seu gênero preferido?

— O generoso.
   
— E o pós-ferido?
 
— O gênero de que menos gosto é o masculino.
  
— Alguma frase de efeito para fechar?

— Uso sempre uma frase para as visitas. 'Volte sempre. Para de-onde-veio.' 

— Ambíguo. É uma espécie de 'vá para a puta que te pariu'?

— Se a caraputa servir.

(Entrevista feita para o jornal Ôlha, concorrente principal dos monopólios 'a Folha' e 'a Veja'. O entrevistado era o cara mais desconhecido do mundo nos anos 1970 e por esse mérito acabou ficando famoso. Mas logo caiu em ocaso, pois ao ficar famoso perdeu o único mérito que tinha. Agora que ele voltou a ser o mais desconhecido do mundo preferimos não citar nomes para não manchar sua reputação anônima.)

Um comentário:

Fábio Roberto disse...

Será que eu conheci esse desconhecido quando ele ficou conhecido? Agora desconheço!