terça-feira, 31 de janeiro de 2017

COMPOSITOR E POETA ABRE VAGA PARA MUSA

SALÁRIO: poesias e canções.
BENEFÍCIOS: amizade; aventura; emoções intensas, alegres ou não; mergulho nos sentimentos contidos na profundeza da alma; infindáveis palhaçadas, debates filosóficos e papos artísticos; participação nos eventos da Casa do Sarau; carteirinha da Turma Braba; book mensal com as obras inspiradas no período.
BENEFÍCIO ADICIONAL: acervo com mais de 400 canções disponíveis.
HORÁRIO: a combinar
EXIGÊNCIAS: ser mulher inspiradora em todos os sentidos.
DIFERENCIAIS: serão considerados por olhos, coração e mente de poeta.
DURAÇÃO DO CONTRATO: enquanto houver encantamento.
RISCOS: paixão; sexo; descobrir sua loucura; ser criadora de arte; sonhar muito e não se adaptar mais à realidade; querer fugir do mundo; ter a melancolia como parceira até no momento mais feliz; ter a alegria como companheira até em um funeral; ter a vida escrita e sonorizada; não poder esquecer jamais o que passou de bom e ruim; beber a vida e desejar a morte.
INTERESSADAS ENVIEM MENSAGEM INBOX

FAROBERTO

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

ASTERÓIDE

Eu não poupo nada. Seja desespero, grana, cerveja ou raiva. Palavras, dúvidas, músicas, certezas, pensamentos psicopatas ou filosóficos muito menos entronizo em mim. Não me guardo esperança ou desistência. Vomito tudo isso do meu interior. Defeco fé e descrença numa diarréia inacabável. Não consigo juntar pontos e simpatias. Nem acumulo sorrisos ou amontôo melancolias. As minhas tristezas deixo que jorrem em milhares de uivos pra lua. Memórias não me existem, pois as apago cantando nos lugares mais insólitos. Histórias que vivo morrem rapidamente porque não são economizadas. Os meus sonhos praticamente saem na urina quando rego irresponsavelmente jardins, muros e postes. Orações e blasfêmias as executo até me exaurirem. O tempo escasso eu o gasto inadvertidamente. Deixo sangrar cada gota de sangue das feridas abertas na alma e no corpo.

Não poupo coisa alguma ou qualquer pessoa porque posso não acordar amanhã. Fumo maços de cigarros e injeto drogas compulsivamente. Ando kilometros mesmo que esteja quase me arrastando em cansaço. Acabo com a última garrafa de whisky do mundo porque não tem importância ter mais disso no próximo minuto. Outra chance, outro pênalti ou mais uma vez de qualquer coisa não quero porque jogo tudo fora.  Mais uma mulher não desejo porque tenho que me exaurir de todas agora. Quem sabe um asteróide se colida com este planeta justamente no dia seguinte a este e então este será o último dia, e eu não fiz tudo o que podia, queria, desejava. Por isso sou assim intenso, inconseqüente, esquisito e maluco queimando todos os meus talentos desta forma despojada. Paixões vêm, vão, vêm, vão e nunca permanecem. Elas me abandonam no suor. Não sou começo, só o que sempre acaba. Não sou rio, mas um vazamento de cano furado sem conserto. Sou a poluição que vai contaminando o céu até desperdiçar todo o ar. Não me poupo para o amanhã porque ele nunca irá chegar.


Fábio Roberto

domingo, 15 de janeiro de 2017

TEATRO (Musicado em 1991)

Passando pela vida,
pela curva de qualquer esquina perdida,
o horizonte não se enquadra nos olhos.

Tudo é nuvem espessa, longo caminho.
E todo dia a cortina se levanta.
A história se faz linda, violenta.
O destino improvisa o momento,
deslocado no tempo e no espaço sombrio.
Dramas e comédias de um roteiro
que ninguém escreveu.

Passando por aí,
pela curva de qualquer esquina perdida,
a vida não se enquadra nos olhos
de quem a vê.




Fábio Roberto

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

ESCURECER

Corro atrás do tempo,
Não alcanço o amanhecer.
A luz que me chega
Só me cega e faz sofrer.

Fecho os olhos a essa cor brilhante
E não sinto o seu ardor queimar.
Fecho os olhos a essa cor errante
E os abro em melhor lugar.

Meu caminho sempre foi voar.

O sol
Inconsequente
Se pôs.
Indiferente ao frio
E à dor
Nascente.

Meu coração pressente o escurecer.



Fábio Roberto
Letra para a música de Titi Trujillo

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

GRAND FINALE

Uma canção não se desfaz
se já tocou e alguém sentiu.
Mesmo se o dono da canção,
um dia quiser esse som renegar.

Cantar é dom da vida.
As frases, melodias
que a cada sol combinam suas cores.
Destinos, Housadias
vencendo os pudores.
Passagem carimbada só de ida.

Uma canção não se desfaz
se já tocou e alguém sentiu.
Mesmo se o dono da canção,
um dia quiser esse som renegar.

Viver é dom de quem não sabe,
não desejou, talvez nem acredite.
Dançam livremente as notas pelo ar.
Não haverá amor que não acabe.
Mesmo paixão louca de Afrodite,
morre só e longe do seu par.





Uma canção não se desfaz
se já tocou e alguém sentiu.
Mesmo se o dono da canção,
um dia quiser esse som renegar.

Compor é próximo dos deuses:
o artista determina grand finale.
Rasgando a partitura em improviso,
regendo o som da morte com berceuses.
E antes que a paixão pra sempre cale,
a beija altissonante com um sorriso.

Uma canção não se desfaz
se já tocou e alguém sentiu.
Mesmo se o dono da canção,

um dia quiser esse som renegar.

(Canção 19 da parceria Jairo Araujo e Fábio Roberto)