quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Do Livro das Letras - BRILHOS TURVOS

Voluntário ou não o poema surge na cabeça. Não há porque temê-lo, só faço escrevê-lo, como se fosse do teatro uma peça, e musicá-lo. Dentro de mim há intensa vida, e o sentimento não calo, seja chegada, seja partida, seja pra amada, seja ferida...

BRILHOS TURVOS (musicada em 1979)
A ponta da faca roça meu peito.
Em pensamentos turvos me vejo em novo leito.
Coragem selvagem.
Coragem covarde.

A ponta da lâmina brilha afiada.
Nenhuma voz para dizer pare.
Nenhuma voz para dizer não.
Nenhuma voz brilha.

A ponta da faca covarde.
Pensamentos turvos roçam meu peito.
Coragem afiada.
Pensamentos brilham.

A ponta da lâmina turva.
Nenhuma voz, lâmina selvagem.
Nenhuma voz, peito aberto.
Um brilho turvo cai no leito.

Ouço gritos, brilhos turvos,
gritos histéricos dizendo não.
Ouço gritos, brilhos turvos,
gritos histéricos dizendo não.

Fábio Roberto


terça-feira, 22 de agosto de 2017

FORASTEIRO


Não sou essa tola verdade de homens
Não sabem quem sou
Eu sou muito mais do que a própria idade
Que nunca chegou
Não sou essa falsa amizade
Sou inteiro naquilo que sou
Forasteiro perdido
Som

Sou inteiro pedaços partidos
E viverei até sonhar
Sôo longe deste lugar

Soa o grito canalha
Dessa febre inocente

Sou a voz dos temporais




Fábio Roberto


Obs.: musiquei este poema em 1983 e lendo a bela poesia da Andréa Fernandes o lembrei e achei adequado publicá-lo agora.

RECEITAS MÁGICAS


O que é de verdade permanece
O resto é chuva de verão, ilusão e desgosto
Sepulcro caiado, jato de tinta desbotado
Vidraça quebrada, espelho estilhaçado
Num mundo velado
Tudo é fake, tudo de mentira, tudo vazio, decepção
Não darei receitas mágicas ao que exige tradução e uma brilhante dedução
Seja perspicaz, seja iluminado
Nos tornamos seres esquisitos, preocupados em agradar a quem não merece, atacar quem padece
Peça à bússola o seu norte
Peça ao jogo de cartas sua sorte
Peça uma arma e seu porte
Conto de fadas é pra crianças
Jogo de espadas pra viris
Não espere de mim metade
Por que só sei ser por inteiro, de verdade


Andréa Fernandes



segunda-feira, 21 de agosto de 2017

LIBANESA

Desenho no teto do meu quarto
Rabiscando a escuridão com os olhos
A tinta é a lembrança de uma visão
Alguém trazida de um futuro iluminado
A letra foi forjada na força da emoção
Alegrias e caminhos, as matizes deste sonho
E o silêncio desta pintura se quebrará
Num violão em melodias harmoniosas
Uma paz na certeza de amar
Certeza de ser feliz para todo o infinito
Que este teto, esta escuridão, esta lembrança
Eternizados na presença constante do amor.

Jairo Medeiros
20 08 2017

Para Roberta

SEMPRE

Muito bom ter você perto
Matando a saudade no olhar
Profundo, lento e direto
Matando a distancia no abraço
No sorriso aberto, sincero
Acabando com a solidão nas noites frias
Esperando as luas do verão para passeios
Mãos dadas na sombra da nossa alegria
Fé que o caminho é longo e tortuoso
Mas que a paisagem faz valer a pena
Teu perfume no embaraço dos teus cabelos
Quando passo minha boca em seu pescoço
Sentido arrepios e desejos mais ternos e profanos
Distrações eternas como garoa fina em noite sem luar
Temos todo tempo do mundo para ter isso sempre.
Sempre.
Sempre.

Jairo Medeiros
21 agosto de 17

Para Roberta

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Maio Maria Matão

Ela olha  as frutinhas
A mais de 20 metros de distância

O canto dos pássaros
Os cachorros perdidos

Ela se compadece
Da tamanha loucura que é o viver

Na Terra
É tudo vislumbrante e tenebroso

Plantamos uma árvore
Explodimos uma minhoca

Admiramos o trabalho árduo das formigas
Pisamos

Enormes folhas são carregadas
E sob as nossas costas
O peso das dúvidas:

O que eu faço na Terra?
Quem sou eu?

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Feche os olhos.



Pense nuns olhos fechados
E respiração lenta
Mente leve e desperta
Ouvindo o murmúrio do amor
Sentindo a pele arrepiar
No toque dos beijos leves
Navegar por dentro dos teus ouvidos
E descobrir qual a música sou pra você

Jairo Medeiros  2017-08-15


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

HEIN?

Faço poemas pras Musas
-Sacana!
Chamo uma puta de puta
-Canalha!
Digo-me maldito errante
-Psicopata!
Tinjo-me de suavidade
-É gay!
Cortejo quem me atrai
-É casada!
Desdenho quem me enoja
-Vai lá!
Agrido quem merece
-Violento!
Revelo as verdades
-Tarado!
Vomito a sociedade
-Hipócrita!
Isolo-me nas festas
-Estranho!
Sorrio pra desgraça
-Interna!
Choro um romance
-Piegas!
Acendo uma paixão
-De novo?
Esqueço uma paixão
-De novo?
Tranco o coração
-Que é isso?
Faço uma canção
-Trabalha!
Brindo por viver
-É bêbado!
Distraio-me sonhando
-Drogado!
Desejo só morrer
-Suicida!
Eu olho para frente
-É surdo!
Fábio Roberto

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

DEUSA

Ainda não sei o sabor
Do beijo que ontem sonhei
Passeando pela paisagem
De mãos dadas com uma deusa

Eu lembro que havia o canto
Da natureza espantada
Com a paixão que nascia
E o coração desejava

Os pés nem se cansavam
Amantes assim flutuam
Parecia tudo real
Os olhos clareando a noite

Não precisamos palavras
O sentimento entendeu-nos
Aquecendo em abraço tão forte
Que a vida se despertou

Movimentando a lua
Do céu para outro tempo
Nascendo um dourado dia
Feliz por abrir os olhos

E admirar o teu rosto
Sorrindo e era apenas sonho
Lugar onde eu te beijei
E onde eu sei o teu gosto


Fábio Roberto

09.08.17

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

EPITÁFIOS DE...


Dono de Celular da Oi: tchau!
Dono de Celular da Vivo: morto-vivo
Dono de Celular da Tim: aparelho fora da área de cobertura.
Curto e Grosso: off
Cervejeiro: daqui não há quem cevada.
Realista: a pós-vida está osso!
Desiludido: enterraram meus sonhos.
Viciado: do pó ao pó.
Convencido: meus pêsames para todos.
Português: terra à vista!
Rico: o futuro... adeus, pertences!
Sovina: Deus me pague!
Ateu: Há...Deus?
Pobre: lápide retirada por inadimplência.
Gay: já dei o que tinha que dar.
Devedor: devo não nego, vem aqui me cobrar.
Modelo: meu esqueleto veste um terno Giorgio Armani.
Fumante: estou na área reservada para fumantes!
Atleta: bati o meu recorde sem respirar!
Bombeiro: só restaram cinzas...
Pescador: tantas minhocas, mas cadê a vara?
Ansioso: já fui tarde.
Incrédulo: isto não está acontecendo.
Otimista: passei desta para melhor
Fábio Roberto

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

O ANO NOVO

O Ano Novo resolveu não nascer. De soslaio perscrutou o ambiente e resolveu continuar no casulo. Não gostou de nada do que viu. Que adianta chegar e tudo ser igual ou pior? Para que novamente tantas falsas promessas ou esperanças que seriam frustradas? Que ficasse tudo como estava, o Ano Velho se perpetuando coberto de insensatez, injustiças e maldades. Quem sabe a realidade se tornando tão cruelmente perene, pudesse em algum momento a vida sorver com a língua suas lágrimas.

E assim, decidido e irredutível, o Ano Novo fechou os olhos e adormeceu na manhã do último dia do Ano Velho. Este, ancião em frangalhos e com a alma carcomida pela dor, desesperou-se e gritou implorando descanso aos céus. Os Senhores do Tempo, subitamente surpreendidos pela inusitada ação do Ano Novo, convocaram uma reunião com todos os Anos Antigos, que estavam muito mais antigos, pois desde que o mundo se tornara mundo um se somava ao outro sem recesso, portanto o ano I era o Pai de Todos. O Pai de Todos os anos falou aos Senhores do Tempo que aquilo era inadmissível, um absurdo, uma afronta. Como aquele rebento que nem saíra ainda das entranhas da mãe eternidade se rebelava contra a lógica da existência? Exigiu uma providência enérgica falando em nome de todos os Anos Antigos e principalmente pelo Ano Velho atual, que tremia em espasmos desesperados, numa espécie de Parkinson aflorado pelo medo. Mas o que os Senhores do Tempo poderiam fazer? Não havia como obrigar o Ano Novo acordar se ele não quisesse. A situação foi piorando e ficando catastrófica, pois no planeta os preparativos para as festas da virada do ano prosseguiam despreocupadamente, até que o Ano Velho avisou que exatamente à meia-noite também adormeceria para o horizonte.

E assim aconteceu. Sob os olhos estupefatos dos Senhores do Tempo e defronte aos boquiabertos Anos Antigos, o Ano Velho deitou-se em nuvens ao lado do Ano Novo, apagando-se rapidamente. Silenciosos e num sono profundo, ambos passaram a sonhar o mesmo sonho: um tempo que merecesse ter continuidade. Ninguém ainda percebeu que desde aquele dia o ano não muda, não vai pra frente nem retorna. E os dois ainda estão lá, sonhando. Quem sabe desta vez, quem sabe desta vez o Ano Novo acorde...


Fábio Roberto

terça-feira, 1 de agosto de 2017

DESTINOS

O poeta escreve o que vive, o que gostaria de viver, o que sente, o
que sentirá, o que vê ou irá ver, o que passou, o que sabe e o que
nunca saberá.

O destino do poeta é buscar as palavras mais bonitas, perfeitas e
simples para reproduzir a emoção de viver e amar.

Hoje, especialmente hoje, só neste instante, neste milésimo de
segundo e nunca mais talvez, não tenho vida para escrever, não
gostaria de viver nada, nada sinto ou sentirei, nada vejo ou verei,
nada passei, nada sei e nada soube.

Um poeta assim é um poeta sem palavras e ironicamente um
poeta sem palavras nem mais poeta é para poder reproduzir a
emoção de viver e amar.

Então encerro agora todos os destinos com o meu, o meu destino
de ser sem destino. E como não tenho destino algum, nem palavras,
calo minha voz e fecho os meus olhos.

Vou me deixar conduzir para onde o vento leva as folhas que
caem das árvores. Irei junto como uma folha de papel em branco.

Quando outro vento qualquer, por um capricho do destino, me
trouxer de volta, serei poeta de novo e trarei palavras vivas em
minha folha de papel.

Destinos...


Fábio Roberto

Fim do Livro dos Destinos