quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Empregadores


O empregador estava exaurido. As mãos dele, como uma balança, pesavam qualidades, capacidades.
Estava farto de ver que nas linhas de suas mãos se costuravam destinos alheios, nunca o seu.
Rejeitava esse, admitia aquele, mas na vida ninguém nunca o escolheu, nem como confidente, nem como saco de pancadas, nem para banco de pelada de várzea. 
No ancoradouro daquele RH sua vida pendia, ele era o cais de barcos aventureiros, piratas sorridentes, mas nunca conhecera o mar de fato.
Como conseguiu aquele emprego nem ele se lembra, parece que esteve sempre ali, parece que nunca ali esteve. Aquele emprego era a um só tempo útero e lápide onde ele se demorava, indeciso.
De repente entrou um rapaz novinho cheirando ainda a adolescência: seu olho feito agulha já foi logo pinicando as mãos do empregador; queria o primeiro emprego. 
Num átimo o empregador se descolou de si, feito sombra pegou suas próprias mãos e descosturou linha por linha os destinos que nele estavam bordados. Com a palma lisa, branca, virgem, cumprimentou o assustado rapaz dizendo 'toma, o emprego é seu'. 

E saiu-se por aí afora, sombra sem corpo, livre, como uma imagem que escapasse da fotografia.

BESTEIROL

Remedinho que a Marilí está tomando para voltar aos Poemas Brabos.

faroberto

SIMANCOL

Remedinho que o Sidnei tomou para desaparecer dos Poemas Brabos.

faroberto

BROCHOL

Remedinho que o Jairo está tomando para nem acessar os Poemas Brabos.

faroberto

SOSSEGOL

É o remedinho que o André está tomando para se livrar de provocações.

faroberto

PREGADORES


O pregador estava velho. Sua madeira amolecida quase se desmilinguia sozinha. A presilha enferrujada praticamente já não permitia que ele se sustentasse no varal. Era um esforço hercúleo. E ficava ali abandonado, sujeito às intempéries, sem prender uma calcinha, uma cueca, uma simples meia furada.
Foi então que ele olhou pra cima e viu uma luz. A luz sempre estivera ali, mas ele nunca tinha notado.
Subitamente dessa energia retumbou uma voz grave, instigante e gutural que lhe falou: cumpra a sua missão!
Imediatamente, tomado pela emoção, desprendeu-se do varal e espatifou-se no chão.
Dolorido mas tomado por uma força sobrecoisa, já que não era humano, juntou os seus restos e passou a pregar palavras.


Tornou-se o mais rico, influente e respeitado pregador que já se conheceu.


fÁBIO rOBERTO

Depredadores (paródia)

O muro vivia rodeado de putas e depredadores que tinha que escorar.
Sempre algum pichador mais ousado lhe borrava a ex-tinta coloração, como um cão marcando território. As putas abaixavam as calcinhas (as que as usavam) e espirravam urina sobre a ainda fresca tinta de spray. 
Fora isso era um muro inútil, monótono, sem função, não separava casas, não protegia quintais, ninguém pulava o muro: era só passar por um dos lados abertos. Só escorava as putinhas (a quem nunca experimentara, mas sempre o sonhara) e servia de caligrafia ou sparring aos depredadores.
Até que um dia a sífilis levou a última ninfetinha embora, e a pneumonia levou o último vândalo.
O muro adoeceu, amoleceu, tijolos esfarelaram ao sol, a base ruiu, veio abaixo.

Nesse exato instante se separou de si. 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

PREDADORES


O espantalho vivia rodeado de frutas e dos predadores que tinha que espantar.
Mas sempre um predador mais ousado rompia limites e roubava algo do que ele tinha que proteger.
Não entendia o fracasso.
Ficava ali estático, firme, dedicado, de braços abertos cumprindo a sua função sem questionar.
Nem uma frutinha sequer já experimentara.
Até que certo dia os predadores levaram a última preciosidade do terreno.
Estava tudo acabado. Frutas, função, firmeza, dedicação, razão de viver.
Desapareceram os predadores e até o sol sumiu, o que não justificava mais nem usar o seu chapéu de espantalho.
Mergulhou em profunda depressão, sem saber pra onde ir ou fincar.
Entristeceu uma dor imensa, pensou que ela nunca mais iria passar.
Exausto e sem futuro, finalmente abaixou os braços.

Nesse exato momento espantou a tristeza.


fÁBIO rOBERTO

Aviso geral

Informo ao público em geral que neste corrente mês os funcionários desse bológue estão em ciclo de baixa produtividade devido a corte de verbos.

Alegam outros que a ausência de postagens não passa de uma homenagem ao Jairo, aniversariante do mês que vem não longe.

Outras fontes afirmam apenas que


terça-feira, 23 de outubro de 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Filosofando em uma tarde qualquer


Filósofo 1:
- As mulheres mandam em nossa vida, essa é a primeira verdade das leis imutáveis de todos os tempos! 

Filósofo 2:
- Newton elaborou a lei da Gravidade por causa da maçã que Eva comeu no Éden, diante da gravidade do assunto. Por causa dela, Adão foi expulso de lá. Ou seja a mulher manda nos destinos do homem desde os primórdios.

Filósofo 1:
- Na verdade Newton se equivocou no nome da lei que deveria se chamar Lei da Gravidez

Filósofo 2:
- Uma outra lei ainda, mas aí acho que foi Einstein, ou não? É de que um corpo tende a permanecer em repouso no sofá até que a esposa nos mande sair dali.
Inclusive Salvador corria perigo se não saísse Dalí.

Filósofo 1:
- Essa ainda é Newton.
A do Einstein é da relatividade, ou seja, não importa o ponto de vista elas ainda vão achar que é relativo à loira.

Filósofo 2:
- Então, ainda segundo Newton, as mulheres creem que as espécies evoluem pela seleção. Exceto quando assistimos a um jogo do Brasil. 

Filósofo 1:
- Aliás, Darwin foi o que disse que o universo se resume a uma casca de nós, daí que surgiu a primeira lei do casório. 

Filósofo 2:
- E Galileu que disse que após o casamento dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, nem no universo.



André e Lê.... Filosofando

Se Poemas-Brabos! fosse um país

Fábio seria o ex-presidente;
Ex porque Marili, da oposição, organizou o impeachment.
André seria o PIB, 
Eu, um patriota, 
Marcia e Sarah seriam turistas,
Sidnei, um imigrante clandestino
E Jairo estaria em exílio.

MEDIDAS

Abraçar o mundo é impossível quando ele é pequeno para braços longos.

fÁBIO rOBERTO

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tal pai, tal filho


Embêbado em colostro
Em peito madre chora
De outubro medo a gosto
Em puta madre ora

Manhã em merda fralda pesa
Noite o mimo afoga em riso
Caimbra em perna afasta resa
Coiote o uivo afoga em mijo

Será que aguenta o tal coruja?
Será que enfrenta o dito cujo?
Se correr o bicho caga
Se eficaz o bicho suja

André

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Informações úteis no feriado

Veja o que abre e fecha no feriado de 12 de Outubro:

PERNAS: há que se examinar bem a flexibilidade, e dos horários.

OLHOS: alguns olhos abrirão durante o dia e fecharão à noite. Olhos 24h abertos, só de peixes e insones.    

PORTAS/JANELAS: algumas portas estarão fechadas; recomenda-se, nesse caso, entrar pela janela. Não havendo essa possibilidade, a sugestão é de que se fique do lado de fora mesmo.

BOCAS: abrirão na hora de falar mal e fecharão na hora de falar bem.

TEMPO: (clima) o tempo abre, mas o sol sai na quinta para nunca mais voltar pelo menos até segunda. 

ASPAS: se bem usadas, abrirão e fecharão. 

GUARDA-CHUVA: é uma flor que só abre com chuva.

ZÍPERES: é previsto que alguns zíperes não abram na hora das necessidades. Nesse caso o ideal é fazer nas calças mesmo. 

Polêmica noturna

No calendário existem algumas datas comemorativas.
Pra mim tanto faz, singular ou plural, mas, qual é o termo comum?

Dia das Crianças ou Dia da Criança?
Dia das Mães ou Dia da Mãe?
Dia dos Pais ou Dia do Pai?

ps: valendo uma Erdinger.

DIA 12²

Dia 12 é dia da Noite, porque dizem que a Noite é uma Criança.

faroberto

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dia 12

A criança que há em mim já está velha
Está um tanto enferrujada, soterrada
Desbotada, desbocada, abandonada
A criança que há em mim é uma pentelha
Sobrancelha franzida, cara fechada
Maleducada, malagradecida, mimada *

Já nem lhe dou bola, quanto mais raquete!
O ping-pong que jogo hoje é só comigo
A criança que há em mim vai de castigo
Já nem lhe dou uma trela, quanto mais sete!
Essa criança em mim é um ser tão antigo
Que ainda pende um cordão de seu umbigo

Na verdade, não mais lamento pela criança
Que há em mim e não mais fede nem cheira **
Apenas sinto falta daquela brincadeira...
No entanto vejo, enquanto idade avança,
O velho que há em mim crescer por osmose
E é pra ele que vou dedicar esse dia doze.



* Eu era uma criança chata, anti-social, insuportável.
** Não gostava de tomar banho.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Soneto cinzento

Não só de métrica vivem poemas
Nem só de liberdades um escravo.
Mui menos de Bilac vive Olavo,
Que tinha seu fetiche por algemas.

Não só às claras vivem do ovo as gemas,
Tampouco ricos sem nenhum centavo.
Nem um artista vive só de Bravo! 
Nem vive amor só de telefonemas.

Não vive uma velhice que jejua   
Nem uma infância sem a guloseima,
Pois ambas desse modo são ranzinzas.

Quem dera a poesia fosse lua
Iluminando a noite enquanto queima.
Mas todas as palavras tornam cinzas...

RENDIÇÃO

FAROBERTO TEM FARO
RENDO-ME AO ATO
QUE O BOM BILAC
NOS OIÇA..

FAÇO SONETO
AOS CASTIGOS
SINTO O PESO
DO IMPOSSÍVEL
COMO DOEM
OS OUVIDOS

ENTREGO-ME
AOS SAPOS
VIVA A MÉTRICA
E A CONSTRUÇÃO!


Marili
(Vejam novo soneto no Valsa Literária, saído aos soluços, gastos todos os neurônios...maldita seja a métrica, louvo: Bilac!)

Lugar

Sem amor qualquer lugar é solitário.
Seja um cemitério,
seja um berçário.
Vida é resposta a qualquer mistério.

Amo. E só existe a palavra vida no meu dicionário:
caso com a morte só pra cometer adultério!

Faroberto

(Esse poema é do Fábio Roberto, mas ele só escreveu isso porque eu devia estar dormindo ou desatento na hora... ass: Lê)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

O PRIMEIRO SONETO A GENTE NUNCA ESQUECE...


VIOLONCELO


Ontem meu sorriso foi-se amanhã

Brisa doce do teu olhar aturdido

Somente rancor profunda gadanha

Sabor amargo do ser iludido.


Se a tristeza soubesse meu nome

Saberia como peito dói ora range

Como nem o luar é meu cognome

Finda amor e nem som mais tange.


Esse amoroso antes tão apenso

Agora morto sofre mor intenso

Mutilado meu corpo é fustigo.


Os lábios padecem esperando

Os olhos compassam lembrando

Que a vida trouxe-me como castigo.


 Marili

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Exercício do sedentarismo

A estátua é a personificação do sedentarismo. Mas a única estátua verdadeiramente sedentária é a daquele buda gordinho que aliás está sempre sentado e feliz. O resto é photoshop. 

COSCORÃO



 

O velho sentado na cadeira posta pra fora da rua tranquila que não passava viva alma...recordava ali olhando para o vento morno da tarde que se formava e confusamente tentava alinhavar os pensamentos da vida que tinha vivido e de tudo que havia passado e não arrematava um ponto tudo lhe parecia turvo e sem nexo...então um boi passava calmamente em sua frente o bafo quente soprou mais uma vez na cara enrugada e o velho pensou que era sozinho e sozinho estava naquele mundão só lhe restavam todas as feridas as de dentro e as de fora... e assim com pensamentos trôpegos pode suspirar o resto da tarde...

 Marili

Aula de gramática

Político é uma corruptela.

EXERCÍCIO DA GUERRA


Rajadas de metralhadoras são expelidas por consideradas bocas santas. As más línguas, com seus ditados impopulares, espalham a notícia. O Alfabeto traído, encurralado no beco escuro da ignorância, foi assassinado sem dó nem piedade. A escrita e a fala não mais existem. O analfa matador de aluguel grunhe um som ininteligível de vitória. Ao mesmo tempo, perto dali, nasce a Mímica.

fÁBIO rOBERTO

SOL


HOJE ACORDEI
NÃO VI O SOL
NÃO SENTI
O CALOR DO SOL
NÃO VI OS REFLEXOS
DOS RAIOS DO SOL
HOJE
NÃO VI O SOL
PORQUE
NÃO OLHEI PRO CÉU
PORQUE
NÃO ABRI OS OLHOS
PORQUE
NÃO ACORDEI


 (música muito, muito antiga)
fÁBIO rOBERTO

AQUI SE FAZ...


Tudo feito, tudo por fazer.
Tudo mal feito, tudo por fazer.
Tudo bem feito, tudo por fazer.
Bem feito!  Tudo por fazer.


fÁBIO rOBERTO

O SONO

Dormir é a ressaca da vida e o aperitivo da morte.

fÁBIO rOBERTO

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Exercício da Paz


Ficou cego
Cerrou as pálpebras, pois já não mais servia
Trouxe pra perto seu enorme ego
Há um metro de horizonte
Em ponta dedos se guia

Ficou surdo
De fora pra dentro um ruído entrou para nunca mais sair
Musicou em cachimônia
Se maravilha com o gosto do feijão
Não fecha a porta para dormir

Ficou mudo
Engole vocalizações antes vomitadas
Não reclama nem aclama
Não grita, não chora, não lamenta
Língua não mais o põe em cilada

Não foge donde fugia
Alegra como carinho em cão
Tristeza não mais fermenta

Ficou em paz....


André

Mais uma anti-ode à zica

Vade mecum, vade retro,
vade táxi ou vade navio,
mas vá, se precisar soletro:
vê á pê érre a pê u tê a quê u ê pê a érre i u.

Focas não costumam hibernar!


Foca não hiberna, estou somente andromecido...

Não é que estou ausente, não estou focado!

Quem o foca fere por foca será ferido!

Se é a vontade do polvo, eu digo que foca!

Vocês sabem, sou uma foca de dois cardumes...

Me enchem tanto o saco que até fizeram uma música: Foca amolada.


André

Focas costumam hibernar?

faroberto