sábado, 18 de outubro de 2014

RELÍQUIA

Uma geringonça de vidro partido
que serve para guardar coisas
um troço esquisito que até hoje
não entendo como funciona.

De todas inovações tecnológicas
já pude entender o funcionamento
dos mais avançados ao mais rústicos
métodos de engrenagem e molas
porém essa coisa me confunde.

É uma espécie de caixa abstrata
com um fundo falso, esquisitíssima
dentro da qual guardo relíquias
porém não as acho depois.

Só existe porque, não olhos
mas algo há em nós que a perceba
sem o que seria apenas inútil e cortante.
É uma espécie de espelho mirando outro espelho
que a remira de volta 
propondo um jogo infinito 
inacabável, insuportável 
como nos velhos salões de cabeleireiro
e eu no meio da reflexão cruzada
enquanto a coisa sinistra
me corta os pensamentos.

Não tenho mais nada de meu.
Hoje em dia é minha única relíquia
esse troço maluco de vidro partido.
Mas evito olhar para a geringonça:
me assusta saber que eu existo.


(para a mesma uma das mostra artísticas)

SERELEPE

Tive um pensamento serelepe, tão serelepe
que tudo que era triste proparoxítona ficou serelépidamente feliz:
lápide, sábado, lágrima, túmulo, bêbado, ríspido, lúgubre,
bípede, pílula, péssimo, nádega, vírgula, Jairo, nariz.

Jairo e nariz, proparoxítonas?
Ora, se na proparoxítona o acento vem antes,
logo, na vida, tudo que vem antes assim o é.
Por isso que Jairo sempre chega mais cedo:
o nariz do jairo é proparoxítona.


(para uma das mostras artísticas)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Declaração de Tesão

Linda,
basta pensar em você que fico excitado,
começo a suar, apaixonado,
precisando de você toda e do teu sim.
O sangue ferve quando me lembro do teu calor,
 da tua língua percorrendo cada pedaço de mim
e do teu beijo intenso, saboroso, regenerador.

Recordo cada carícia lasciva, cada indecência,
cada imoralidade que a gente comete
em nossa maravilhosa imprudência.
E como a gente as repete e repete e repete
numa fome infinita e insaciável,
um vício absoluto e irresponsável,
sem trégua, sem temor, sem cura,
enlouquecido e violento em sua ternura.

Os nossos corpos em completa entrega,
um dentro do outro, praia e mar,
lua e noite quando a gente se pega,
sol e céu pra além de amar.


Fábio Roberto

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Definições


Sede: sensação provocada pela necessidade de beber algo alcoólico e excitante como a mulher amada.

Fome: sentimento de desejo e excitação pela mulher amada, superior ao tesão.

Vício: sentimento de necessidade da mulher amada, superior à saudade.

Tristeza: sentimento dolorido provocado pelo vício não consumado, a fome não satisfeita e a sede não saciada pela mulher amada.

Alegria: sensação agradável que se tem após o ato de ter a sede, a fome e o vício momentaneamente resolvidos com a mulher amada.

Ciúme: quando se pensa que a mulher amada está satisfazendo a sede, a fome e o vício de outrem.

Dor de Corno: sensação desagradável e específica de dor provocada por protuberâncias pontudas denominadas chifres, sentida quando efetivamente a mulher amada sacia a sede, a fome e o vício de outrem.

Esperteza: qualidade do homem que tem várias mulheres amadas e sempre uma pronta para saciar sua sede, fome e vício.

Inteligência: qualidade do homem que tem várias mulheres amadas, sempre uma pronta para saciar sua sede, fome e vício e, além disso, as deixa completamente apaixonadas.

Safadeza: ato de retribuir o prazer proporcionado pela mulher amada, levando-a ao merecido êxtase de satisfação e pleno prazer.

Sacanagem: é não fazer safadeza com a mulher amada, porque fez antes com outras mulheres amadas no mesmo dia.


Faroberto