quarta-feira, 15 de março de 2017

Texto para Zumbido, o filme-canção

O Zumbido que me enlouquece é a voz da solidão que sinto neste planeta desconhecido. Dói na alma a angústia de viver aqui, sem poder melhorar os destinos, impotente frente à realidade cruel que não se transforma.
A beleza do que admiro em cada paisagem da natureza ou gesto caridoso de humanidade, não torna existir mais suportável. Pouco há que suavize esta provação.
As palavras e as melodias que recebo tornam-se a esquizofrenia de um ser atormentado, que tenta escapar por instantes da prisão cantando a agonia ao universo.
Vez ou outra uma Musa surge inspirando obras que descrevem amor e paixão, emocionando o infinito. Mas isso dura o tempo de um sonho, como se fosse um relâmpago no céu da eternidade.
O que resta ao acordar é o vazio e buscar novamente algo que me complete, provoque, envolva, motive, entorpeça, anestesie, drogue, inspire, apaixone...
Não sei se eu sou Um Açoite ou Uma Espada. Talvez eu seja Um Grito Pichado No Muro. Um Zumbido. Que Zumbe e Zumbe e Zumbe...
Fábio Roberto

quarta-feira, 8 de março de 2017

"A Estória de M..."

Baseada  em fatos reais, mas qualquer coincidência é mera semelhança!

Conheci M... em uma rede social da internet em dois mil e alguma coisa. Garota do interior, bonita, engraçada, dona de uma vivacidade peculiar que combinou com o meu jeito imediatamente, apesar de mais novinha. Ela tinha em torno dos trinta e poucos e eu já estava nos quarenta e tantos. Passamos a trocar brincadeiras no site, eu comecei a provocá-la com poemas e logo nos identificamos. As conversas foram se aprofundando, ficando diárias, primeiro pelo msn, depois também por celular. Dorminhoca, quando ela acordava de manhã encontrava um monte de recados na caixa postal com tudo que eu tinha pensado na noite, inclusive poesias de amor. O chato é que ela estava noiva. É uma sina que me persegue, essa de ter relacionamento com mulher comprometida. Algo que nunca me impediu, mas um dos motivos que devo ir pro inferno.

Os papos foram esquentando até que um dia ela veio passar uns dias em Sampa com a desculpa de visitar familiares. Fui buscá-la no início da tarde de uma sexta feira no metrô Saúde. Vê-la em foto era ótimo, mas quando M... surgiu nas escadas arrepiei. Que linda era essa moça com rosto de menina. Os olhos expressivos, meigos e ao mesmo tempo provocantes. Um sorriso meio irônico, meio sapeca. Em resumo, uma mulher apaixonante, obra esmerada de um escultor divino. O abraço foi demorado e bem quente. Eu me arrependi de ter prometido pra ela que não aconteceria sexo entre nós, porque o cheiro delicioso que ela exalava me excitou profundamente. Eu tinha uma série de atividades previstas com a Turma Braba nesses dias e levei M... em todas. Naquela noite iríamos num show junto com vários amigos. Mas antes ela foi conhecer a Casa do Sarau.

Tínhamos a tarde toda pela frente e estávamos sozinhos na Casa. A simpatia de M... era mágica e eu sentia que rolava forte sintonia comigo. O leve sotaque caipira dessa garota cativava. Conversamos, rimos, toquei violão cantando “sou caipira Pirapora nossa...” e rimos mais um pouco, ela fingindo braveza me dando tapinhas... Aí aflorou o Fábio inquieto. Levantava, sentava, balançava, aproximava, resvalava. Certo momento M... saiu da cadeira pra pegar alguma coisa na mesa e ficou de costas, bem pertinho de mim. Aquele perfume me tomou inteiro. Não resisti e a puxei num abraço delicioso e ela falou muito sensualmente que eu tinha prometido não fazer aquilo, mas se entregando. No que respondi que eu era um grande mentiroso...

Foi uma tarde intensa e que por mim teria durado até hoje de tão boa. Transa sensível, densa e natural como se a gente se conhecesse a vida toda. Recuperamos as energias quando chegou a noite, então fomos com os meus amigos ao show, o que é sempre emocionante. E depois do espetáculo teve um mini sarau em Casa. Claro que M... curtiu demais. Pra mim eram atividades corriqueiras, mas pra ela tudo era novidade. Certo momento ela pediu coca cola com limão e gelo, porque não agüentava acompanhar-nos nas cervas. Aproveitei pra zoá-la um pouquinho. De madrugada levei M... na casa dos parentes e foi fantástico acordar de manhã com uma surpresa, porque dessa vez ela que me presenteou com uma cartinha de amor que tenho guardada com muito carinho até hoje e que revendo me motivou a contar estas singelas aventuras.

De tarde nos reencontramos e até boa parte da noite rolou o Tradicional Churras Junino da Turma Braba na Casa do Churrasco, uma das Casas Associadas à Casa do Sarau. Tudo decorado com bandeirolas, repleto de iguarias, cervas transbordando e muito quentão. M... não estava acostumada com aquele ritmo de agito e em um momento insistiu em beber coca cola novamente, o que respeitei, mas não sem muitas brincadeiras. Com M... vivi momentos maravilhosos que me deixaram muito feliz, principalmente porque ela havia se integrado com a Turma como se fizesse parte há anos. Nessa época eu descasara e estava novamente numa fase de não ter compromisso. Cada vez estava com uma amiga, mas raramente as levava nos eventos da Turma pelo antigo vínculo da Segunda Musa da Vida. Confesso que M... teria se tornado a Terceira Musa da Vida (classificação especial superior a paixões, namoradas ou aventuras) se o chato do noivo dela não tivesse vindo furioso pra Sampa acabar com a nossa estória de paixão!

No início dos anos oitenta eu escrevi a letra de uma canção chamada Pessoas, onde canto sobre um poeta que não sabe de onde vem a dor que já não sente, mas está dentro dele e descrevo sua agonia pela vida que não encontra ou deixa perder em passageiras, fugazes, líricas pessoas. Pois então, M... acabou sendo mais uma dessas paixões. Chegamos a nos ver outras vezes, continuamos por um período a manter aquele encanto mútuo. Mas fui percebendo que ela estava tentando aos poucos se afastar de mim. Ela tinha que manter o compromisso que estava planejado e começando a ser estruturado. Aconteceu que ao mesmo tempo me surgiu aquela que seria a real Terceira Musa da Vida, a minha maior e mais louca paixão. Então deixei a inesquecível M... ir embora e ela simplesmente desapareceu. E eu não imaginava que também com o meu novo amor a sina continuaria e depois de muitos anos de “caso” também a veria partir. Eu já teria composto Colecionando Partidas... mas essa é outra, muito mais longa e poderosa estória...


Fábio Roberto