domingo, 2 de setembro de 2012

A FÁBULA DO TOILLETTE

Seja chamado de  toillete, wc, banheiro, bathroom, latrinas ou simplesmente banheiro, trata-se do lugar mais democrático do mundo.
Gordas, modelos, feias, periguetes ou anãs; galãs, esqueléticos, bombados, obesos ou baixinhos; bom ou ruim, no banheiro todos se igualam, desnudam corpo e alma, despojam-se de vergonhas, orgulhos e roupas. Fitam o espelho fazendo caretas ao escovarem os dentes. Tiram as dentaduras, penteiam as madeixas, passam cremes e batons, fazem exercícios, se barbeiam. Massageiam seios, pernas, costas e egos, masturbam seus sonhos eróticos, fazem necessidades ou até coisas sem necessidade alguma. Leem, estudam, respondem emails, trabalham no lap top. E banham-se após um carinhoso ensaboar das partes íntimas ou comuns, públicas ou privadas.

Pois foi ali que tudo aconteceu: a rebeldia de uma privada pública.

Certo dia em um determinado banheiro de rodoviária daqueles com sachezinhos, sabonetinhos, toalhinhas, balinhas, remedinhos e no qual se paga alguns reais para utilizar, uma antiga privada, após assistir a propaganda eleitoral e cansada após anus e anus de lida ininterrupta enviando dejetos para a profundeza dos esgotos, revoltou-se por não ter perspectiva de uma justa aposentadoria, um descanso merecido pela valorosa labuta diária, enquanto os grandes responsáveis pelo seu excessivo trabalho locupletavam-se em seus cargos mentindo na TV.

Sonhava um mundo melhor, justo, eternamente limpo, perfumado com aroma de notas florais e verdes, fragrâncias de ar fresco, delicado e marcante.
Mas eis que o apertar do botão da descarga a despertou para a dura e mal-cheirosa realidade. As nádegas de um político em campanha nela sentaram, soltando um fétido pum. A frustração, raiva e revolta a-cu-muladas fez a privada reagir. Não exatamente pelo pum, mas sim porque político só faz merda e ganha mais do que qualquer um, pensou ela.

Foi instintivo. Reunindo todas as suas forças sugou o político bundão com tanta violência que o fez o dobrar-se ao meio, engolindo o incauto para o seu buraco negro.

Satisfeita pelo ato, deu um arroto que veio pelos canos formando borbulhas em sua água. Imediatamente pôs-se a bater o assento na estrutura de louça, divulgando a façanha que se espalhou como um viral de cabine a cabine daquele sanitário, depois para os banheiros dos prédios vizinhos e assim sucessivamente, contagiando todas as privadas da cidade, que absorveram cada político desavisado que tentou se livrar dos próprios detritos.

E eles foram tragados para depois aparecerem boiando nos rios, sendo salvos com nojo pelos bombeiros. Nenhum banheiro escapou: prédios comerciais, shoppings, restaurantes, residências, templos, assembleias, câmaras. Foi ridículo ver vereadores urinando em postes, muros, árvores e deputadas defecando em vasos, baldes, matinhos. Alguns mais pudicos, como o prefeito, entrelaçavam as pernas para segurar ao máximo as vontades, mas não houve jeito. Cedo ou tarde fizeram nas calças ou calcinhas.

Compraram fraldas, apelaram para lenços umedecidos, ressuscitaram bidês e penicos, tudo se esgotou. Em vão, as privadas foram irredutíveis. Sem alternativa os vereadores, deputados, secretários e prefeito renunciaram aos respectivos mandatos. Instalou-se a anarquia no município.

O povo nomeou livremente representantes para negociar os direitos das privadas com a líder revolucionária. Com tanta verba disponível as privadas conquistaram piso salarial e registro em carteira; assessores permanentes para limpeza; férias remuneradas; décimo terceiro, quarto e quinto salários; adicional por insalubridade; garantia de fundos e aposentadoria integral após quatro anos de serviços. A partir daí passou-se a respeitar a vida pública da privada.

MORAL DA ESTÓRIA:
VIVER DE MERDA SÓ FÁBRICA DE ADUBO E PRIVADA!

faroberto
para tema Toillette na Terceira Mostra Artística Temática da Turma Braba

Um comentário:

disse...

Foda! Eu acredito mais em fábulas do que em políticos.