Seja
chamado de toillete, wc, banheiro,
bathroom, latrinas ou simplesmente banheiro, trata-se do lugar mais democrático
do mundo.
Gordas,
modelos, feias, periguetes ou anãs; galãs, esqueléticos, bombados, obesos ou
baixinhos; bom ou ruim, no banheiro todos se igualam, desnudam corpo e alma,
despojam-se de vergonhas, orgulhos e roupas. Fitam o espelho fazendo caretas ao
escovarem os dentes. Tiram as dentaduras, penteiam as madeixas, passam cremes e
batons, fazem exercícios, se barbeiam. Massageiam seios, pernas, costas e egos,
masturbam seus sonhos eróticos, fazem necessidades ou até coisas sem
necessidade alguma. Leem, estudam, respondem emails, trabalham no lap top. E banham-se
após um carinhoso ensaboar das partes íntimas ou comuns, públicas ou privadas.
Pois
foi ali que tudo aconteceu: a rebeldia de uma privada pública.
Certo
dia em um determinado banheiro de rodoviária daqueles com sachezinhos, sabonetinhos,
toalhinhas, balinhas, remedinhos e no qual se paga alguns reais para utilizar,
uma antiga privada, após assistir a propaganda eleitoral e cansada após anus e
anus de lida ininterrupta enviando dejetos para a profundeza dos esgotos, revoltou-se
por não ter perspectiva de uma justa aposentadoria, um descanso merecido pela
valorosa labuta diária, enquanto os grandes responsáveis pelo seu excessivo
trabalho locupletavam-se em seus cargos mentindo na TV.
Sonhava
um mundo melhor, justo, eternamente limpo, perfumado com aroma de notas florais
e verdes, fragrâncias de ar fresco, delicado e marcante.
Mas
eis que o apertar do botão da descarga a despertou para a dura e mal-cheirosa
realidade. As nádegas de um político em campanha nela sentaram, soltando um
fétido pum. A frustração, raiva e revolta a-cu-muladas fez a privada reagir.
Não exatamente pelo pum, mas sim porque político só faz merda e ganha mais do
que qualquer um, pensou ela.
Foi
instintivo. Reunindo todas as suas forças sugou o político bundão com tanta
violência que o fez o dobrar-se ao meio, engolindo o incauto para o seu buraco
negro.
Satisfeita
pelo ato, deu um arroto que veio pelos canos formando borbulhas em sua água.
Imediatamente pôs-se a bater o assento na estrutura de louça, divulgando a façanha
que se espalhou como um viral de cabine a cabine daquele sanitário, depois para
os banheiros dos prédios vizinhos e assim sucessivamente, contagiando todas as
privadas da cidade, que absorveram cada político desavisado que tentou se
livrar dos próprios detritos.
E
eles foram tragados para depois aparecerem boiando nos rios, sendo salvos com
nojo pelos bombeiros. Nenhum banheiro escapou: prédios comerciais, shoppings,
restaurantes, residências, templos, assembleias, câmaras. Foi ridículo ver
vereadores urinando em postes, muros, árvores e deputadas defecando em vasos,
baldes, matinhos. Alguns mais pudicos, como o prefeito, entrelaçavam as pernas
para segurar ao máximo as vontades, mas não houve jeito. Cedo ou tarde fizeram
nas calças ou calcinhas.
Compraram
fraldas, apelaram para lenços umedecidos, ressuscitaram bidês e penicos, tudo
se esgotou. Em vão, as privadas foram irredutíveis. Sem alternativa os vereadores,
deputados, secretários e prefeito renunciaram aos respectivos mandatos. Instalou-se
a anarquia no município.
O
povo nomeou livremente representantes para negociar os direitos das privadas
com a líder revolucionária. Com tanta verba disponível as privadas conquistaram
piso salarial e registro em carteira; assessores permanentes para limpeza; férias
remuneradas; décimo terceiro, quarto e quinto salários; adicional por
insalubridade; garantia de fundos e aposentadoria integral após quatro anos de
serviços. A partir daí passou-se a respeitar a vida pública da privada.
MORAL
DA ESTÓRIA:
VIVER
DE MERDA SÓ FÁBRICA DE ADUBO E PRIVADA!
faroberto
para tema Toillette na Terceira Mostra Artística Temática da Turma Braba
Um comentário:
Foda! Eu acredito mais em fábulas do que em políticos.
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