Crônica
da solidão
A
mulher encostada na janela olhava para o céu enegrecido pela noite, analisando
as baforadas que deixavam a imagem turva pela fumaça expelida. Um mosquito
pousou atrevidamente em sua mão. Observou o inseto e deixou que a picasse,
queria algum tipo de contato, com algum ser.
Naquela
solidão que se encontrava a coceira provocada pelo bicho já era um sinal de
sensação, precisava das sensações para sentir-se viva. Coçou novamente o dorso
da mão. Soltou mais alguns tragos e decidiu beber mais um gole do vinho ácido e
ruim.
Pela
madrugada que seguia tentou abafar todos os pensamentos que lhe vinham na
cabeça. Queria poder dormir sem sonhar, sem produzir sequer pensamento algum.
Apenas dormitar. Pegou o livro e leu mais um capítulo lentamente para ganhar
umas horas daquele dia que custava a acabar.
Deitou
o livro na cabeceira e trocou-os pelas palavras cruzadas. Efeito danoso;
estrago com sete letras. Pensou, elucubrou, tinha tempo, veio-lhe injúria. Conferiu.
Acertou. Guardou para o outro dia o término do restante. A madrugada era
lancinante e aterrorizadora.
O
sono chegou-lhe ás cinco. Os sonhos chegaram ás seis. Neles estavam tudo de
mais agonizantes e pungentes, eram unha e carne com a realidade, nada tinham de
oníricos. Acordou e resolveu passar uma pomada na coceira, era melhor assim.
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