OLHO
VIVO
Não
sei se essa pequena crônica irá amenizar seu dia, mas se for, melhor. Pela
tarde, depois de aguentar o calor insuportável e todo o desassossego que o caos
dessa capital paulista nos causa, estava eu no trânsito esperando o caótico
muro de carros prosseguirem. Minha irritação era muita, por vários motivos que
nem valem a pena elencar.
O
fato é que pequenas fotografias da vida cotidiana saltaram-me aos olhos, que
por uma fração de segundo pode perceber as cenas que ali se desenrolavam,
deixando-me tão mais leve que cheguei a sorrir sozinha.
Na
faixa de pedestres uma mãe aguardava que seu minúsculo filho saltitasse as
listras brancas paralelas. A cena não seria bela se aquela pequena criatura
apenas pulasse; mas não, o garoto ria muito, jogava a cabecinha pra trás a cada
listra conquistada, pois era um enorme desafio, alcançado e feliz.
Mal
esse pequeno e risonho instante ia se concluindo, avistei uma graciosa garça,
atravessando a gigantesca avenida, sim uma garça branca, era pesada e até meio
desengonçada, rumando quiçá para o Jardim Botânico, ignorando a massa de
veículos; livre, solta e alegre.
Percebi
que já estava mais leve e concomitantemente nos segundos seguintes ouvi
baixinho Chico Buarque cantando Valsa brasileira; aumentei o som ao máximo, e
cantei, cantei, cantei até rasgar, com o molequinho saltitando e a garça voando
brejeiramente.
Nem
percebi que logo estava perto do destino, o trânsito, que trânsito que nada,
nem calor nenhum; meu olho vivo, ainda bem alerta (Graças a Deus!) havia aberto
as portas daquilo que temos perdido diariamente, o prazer do olhar, do olhar...
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