quarta-feira, 26 de setembro de 2012

EI TURMA BRABA: SEMANA DAS CRÔNICAS...


OLHO VIVO

 

Não sei se essa pequena crônica irá amenizar seu dia, mas se for, melhor. Pela tarde, depois de aguentar o calor insuportável e todo o desassossego que o caos dessa capital paulista nos causa, estava eu no trânsito esperando o caótico muro de carros prosseguirem. Minha irritação era muita, por vários motivos que nem valem a pena elencar.

O fato é que pequenas fotografias da vida cotidiana saltaram-me aos olhos, que por uma fração de segundo pode perceber as cenas que ali se desenrolavam, deixando-me tão mais leve que cheguei a sorrir sozinha.

Na faixa de pedestres uma mãe aguardava que seu minúsculo filho saltitasse as listras brancas paralelas. A cena não seria bela se aquela pequena criatura apenas pulasse; mas não, o garoto ria muito, jogava a cabecinha pra trás a cada listra conquistada, pois era um enorme desafio, alcançado e feliz.

Mal esse pequeno e risonho instante ia se concluindo, avistei uma graciosa garça, atravessando a gigantesca avenida, sim uma garça branca, era pesada e até meio desengonçada, rumando quiçá para o Jardim Botânico, ignorando a massa de veículos; livre, solta e alegre.

Percebi que já estava mais leve e concomitantemente nos segundos seguintes ouvi baixinho Chico Buarque cantando Valsa brasileira; aumentei o som ao máximo, e cantei, cantei, cantei até rasgar, com o molequinho saltitando e a garça voando brejeiramente.

Nem percebi que logo estava perto do destino, o trânsito, que trânsito que nada, nem calor nenhum; meu olho vivo, ainda bem alerta (Graças a Deus!) havia aberto as portas daquilo que temos perdido diariamente, o prazer do olhar, do olhar...

 MARILI SANTOS

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