quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Poema ao poeta aniversariante

Tecem ao poeta uma colcha de idade 
com que enfrentar frio de crepúsculo.
Cobrem-no, talvez por caridade,     
mas a colcha pesada faz com que
o poeta contraia cada músculo
e apenas finja que durma e ronque.

E vestem-no com o pijama da idade,
mas o poeta não queria nem a colcha!
E fecha os olhos, por necessidade,
e força as saudades como a cravelhas
pra bem tensionar à memória frouxa,
que é como um violão de cordas velhas.

Recolhe-se então à concha de misantropo,
mais leve que juntos a colcha e o pijama.
Concha que tem em si, como um copo,
tudo de que precisa: ali está sua história
destilada em sonho nos líquidos que ama.
Assim o poeta bebe, não à, mas a sua memória.