segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O nome absconso (versão livre)

Dar nome a um gato é um ato dificílimo;
não é nenhum joguinho, desses infantis.
Me deem por louco equivalente a mil sacis,
mas afirmo: um gato tem três nomes, no mínimo. 

O primeiro é o comum, todos sabem de cór.
Poder ser um nome próprio ou um adjetivo
que indique a característica desse felino:
seja a cor, o aspecto ou o que lhe caia melhor.

Há outros nomes ainda que soam de fato
tanto para os machos quanto para as fêmeas.
Há palavras que até parece que são gêmeas
de tão idênticas ao jeito desse gato. 

Mas todo gato quer um nome seu, seu só,
que com outro não se divida: um peculiar. 
Senão, de que jeito manter a pose, miar
e abanar o rabo como quem espana o pó?

Um nome particular, um tanto mais digno,
algo como um título de nobreza, enorme!
Desses, com algum esforço, até mil designo;
mas nem falasse o nono e... já o gato dorme...

Pois acima de todos há um nome nessa 
trilogia onomástica que nunca se soube.
Por mais que force o humano e ameace que roube:
apenas o gato o sabe e jamais confessa.

Ao ver um gato meditar (como quem some...)
saiba, o motivo é igual em todos momentos:
sua mente está imersa nos pensamentos
dos pensamentos aos pensamentos do nome:
seu impronunciável, simpronunciável,
pronunciavelado, enovelado, exosfeérico, e apenas seu, nome.




(Versão livre de um poema de T. S. Elliot que ousei fazer para Sarah, que, como se sabe, é apaixonada por gatos. Vai o poema original abaixo.) 

*

THE NAMING OF CATS

(The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn’t just one of your holiday games;
You may think at first I’m as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there’s the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James,
Such as Victor or Jonathan, or George or Bill Bailey -
All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter -
But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that’s particular,
A name that’s peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum -
Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there’s still one name left over,
And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover -
But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.

T. S. ELLIOT)

7 comentários:

Fábio Roberto disse...

orra meu!

Sarah disse...

Que como se sabe é apaixonada por gatos, cachorros, periquitos, porquinhos,Lês...

disse...

Poxa, eu venho só depois dos porcos!

Sarah disse...

hahaha..bobo!

Fábio Roberto disse...

Leandro, isso porque a Sarah esqueceu dos peixinhos...

disse...

Pô ela colocaria a Arca de Noé inteira antes de mim.

Sarah disse...

Meu Deus que carência,rs..