sábado, 4 de agosto de 2012

A caveira sorridente

Não sei se a morte chegará de farda
Nem se virá trotando ou a galope.
Se vem de ônibus é certo que tarda.
Pelos correios mandará envelope
A me avisar que vem na retaguarda,
Seguindo-me com olho de ciclope.
Enfim, não sei se será de espingarda,
Mas certo é que receberei seu golpe.

Decerto, fará que nem enxadrista
Cercando tudo até dar ultimato,
E eu, mãos ao alto, direi moralista:
Se me matar comete assassinato!
Ela nervosa a conferir a lista
Me chamará de hipócrita, de ingrato. 
Propor-lhe-ei como bom esportista
Que justo é disputarmos campeonato.

"Jó-quem-pô!" direi, fechando meu punho.
Rirá, fechando o seu, por sua vez.
Porei um lerdo papel de rascunho,
Ela, uma tesoura com rapidez.
O iminente fim quase testemunho,
Quando lembro e grito "melhor de três!".
Perco a primeira e quase me acabrunho;
Ganho a segunda, uma total mudez. 

O terceiro lance em câmera lenta.
Vejo minha vida passar inteira.
Diante dos olhos, pressão aumenta,
O sangue ferve, o coração à beira,
Orelhas pelando, a boca sedenta,
Apenas uma mão será certeira.
No último lance a morte avarenta
Se nega a continuar a brincadeira.

Não sei se a morte chegará primeiro
Ou se a vida é que sairá depois.
Só sei que me encontrará bem festeiro 
Comemorando com outros vovôs.
Me encontrará assim, num fogareiro
Imaginando um sol que não se pôs.
Não sei... Mas sei, no instante derradeiro,
Seremos eu e ela, só nós dois,
Compondo o meu sorriso verdadeiro
No meu cadáver que se decompôs.

Um comentário:

André disse...

Na duvida é joquempo dois ou um!