quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Empregadores


O empregador estava exaurido. As mãos dele, como uma balança, pesavam qualidades, capacidades.
Estava farto de ver que nas linhas de suas mãos se costuravam destinos alheios, nunca o seu.
Rejeitava esse, admitia aquele, mas na vida ninguém nunca o escolheu, nem como confidente, nem como saco de pancadas, nem para banco de pelada de várzea. 
No ancoradouro daquele RH sua vida pendia, ele era o cais de barcos aventureiros, piratas sorridentes, mas nunca conhecera o mar de fato.
Como conseguiu aquele emprego nem ele se lembra, parece que esteve sempre ali, parece que nunca ali esteve. Aquele emprego era a um só tempo útero e lápide onde ele se demorava, indeciso.
De repente entrou um rapaz novinho cheirando ainda a adolescência: seu olho feito agulha já foi logo pinicando as mãos do empregador; queria o primeiro emprego. 
Num átimo o empregador se descolou de si, feito sombra pegou suas próprias mãos e descosturou linha por linha os destinos que nele estavam bordados. Com a palma lisa, branca, virgem, cumprimentou o assustado rapaz dizendo 'toma, o emprego é seu'. 

E saiu-se por aí afora, sombra sem corpo, livre, como uma imagem que escapasse da fotografia.

Nenhum comentário: