quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Depredadores (paródia)

O muro vivia rodeado de putas e depredadores que tinha que escorar.
Sempre algum pichador mais ousado lhe borrava a ex-tinta coloração, como um cão marcando território. As putas abaixavam as calcinhas (as que as usavam) e espirravam urina sobre a ainda fresca tinta de spray. 
Fora isso era um muro inútil, monótono, sem função, não separava casas, não protegia quintais, ninguém pulava o muro: era só passar por um dos lados abertos. Só escorava as putinhas (a quem nunca experimentara, mas sempre o sonhara) e servia de caligrafia ou sparring aos depredadores.
Até que um dia a sífilis levou a última ninfetinha embora, e a pneumonia levou o último vândalo.
O muro adoeceu, amoleceu, tijolos esfarelaram ao sol, a base ruiu, veio abaixo.

Nesse exato instante se separou de si. 

Um comentário:

Fábio Roberto disse...

Snif, Snif... lindo mas triste demais. Vou beber um whisky e ouvir the wall. Pink Floyd sempre inspira. Tadinho do muro, tadinho.