domingo, 5 de janeiro de 2014

Sons (poema intrauterino)

feito um fute chuto mas em lugar de gol gritam ai
é a mãe que xinga e discute — diz cuticuti o pai
quase escuto a narração mas aqui é muito mute 
ouço o que ouso ou só o que o osso retransmite

às vezes uma substância me acalma ou ludibria
mas tudo é distância se ainda não é teu colo
você dorme um silêncio enorme sem passos
mas o pai ronca uma britadeira furando o solo

som é tudo o que soma e some — e somos
antes de visão ou sapiens, sons = filhos
mas não há sermos (os que, se nascermos, pressupomos)
maior que os de olhos mapaternos brilhos

mapa, sim, já que tão bem nos oriente
e ternos porque, ora! nos é devida a ternura 
de vida, aliás, vão nos inflando... que loucura...
quem diz não ter pedido o nascer... mente...


(para Celi e André)

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