sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Diálogo surdo em ponta de faca

Que pretendes tu que eras você
Que eras tão você e agora és tu
Com essa voz anasalada, com
Essa voz de ranho e ranço, ganso?!
Que pretendes tu com esse vós
Que é a pessoa mais chata do plural
Que eu já conheci em toda minha
Enorme e dinâmica vida conjugal?!

Vá gozar com o palco dos outros
No meu tu não pisa, que se pisa
É como quem pisa esnoba, como
Quem pisa maltrata, pisa e pesa
Pisa em ovos, pisa em povos
Não como quem pisa leveza
Em tablado, templo, nuvem
E te esquivas com nojo da merda
A ótima e útil merda que deixo
Merda, aliás, que no teatro é sorte
No campo é adubo e no cu é tudo.

E te contorces com meu linguajar
Tu que eras você, ocê, cê, se muito
E me chamavas pelo nome, se tanto,
Então me assenhoro se te assenhoras,
Senhora, e te afasto, como exausto
Não com as mãos em que,
Outrora em concha,
Tu vinhas beber com sede imensa,
Mas com a minha indiferença.

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