domingo, 3 de novembro de 2013

Zero


Zero pela definição do dicionário: Algarismo sem valor absoluto, nada, pessoa ou coisa sem valor...
Na história existem evidências da existência do número zero há mais de 3.700 anos...
Zero indica a presença da ausência...
Cheguei à conclusão que o zero é a verdadeira origem da angústia humana...
No momento em que criamos uma representação cujo significado é não possuir algo, criamos uma insatisfação, um incômodo, uma infelicidade, um desespero...
Criamos a forma de representar o vazio...
Será que antes de existir uma forma de registrar que não temos algo sentíamos falta das coisas que não temos?
Tento imaginar como seria a vida sem este número...
Aliás, parece que nem a ciência sabe como lidar com o zero...
Lembrei-me das aulas de matemática... Perdidas em algum lugar, nas memórias de meu passado...
Memórias não tão agradáveis das broncas da sempre zangada professora Raquel...
Acredito que como lecionava matemática, ela tinha consciência da infelicidade que é conhecer o número zero... Hoje consigo enxergar isto...
Zero não é positivo nem negativo... Zero não é um número primo tampouco um número composto... Não se pode dividir por zero... É impossível...
Pensei também no azar dos que frequentam cassinos...
Este é mais um lugar onde o zero mostra seu lado sombrio...
Os números da roleta são pretos ou vermelhos... Com exceção do zero... Que é verde...
Se todos os números são pretos ou vermelhos, porque o zero é diferente?
Além da cor diferente, o sempre onipotente zero representa o infortúnio a todos aqueles que estiverem na mesa...
Todos perdem graças ao zero...
Quanto mais eu penso neste número mais fundo eu mergulho em um mar infelicidade...
Um zero para representar cada coisa que não possuo...
Um zero para representar cada coisa que perdi...
Minha cabeça dói...
Preciso me livrar deste pensamento...
Deste peso... Desta dor...
Preciso de uma garrafa de vinho...
Vou me embriagar para esquecer deste encontro filosófico com o número zero...
Ah, se fosse assim tão simples...
Meu encontro com o número zero estava apenas começando...
Chego ao armário onde guardo minhas garrafas, ansioso por meu encontro com o anestésico que irá me levar para longe deste universo...
Que decepção...
Tenho exatamente zero garrafas de vinho...
Olho para o relógio...
00:00 horas...
A esta hora, a chance de encontrar uma loja aberta próxima a minha casa é zero...
E ainda que houvesse uma loja aberta, tenho exatamente R$ 0,00...
Como a própria representação gráfica do número zero, uma elipse, fechada... Uma vez dentro desta realidade, não há como escapar...
Maldito número zero...

EduardoMontenegro

(Para a IV Mostra Artística Temática da Turma Braba)