Sempre
considerei injusta a divisão dia/noite tão equilibrada. O dia tem o sol
nascendo com seu calor e aconchego, a natureza parindo em cada flor que desabrocha,
pássaros cantando, trabalhadores se empilhando no transporte
público ou seguindo roboticamente solitários em seus automóveis. O padeiro que
vai assar os nossos pães, a mãe que leva o filho ao aprendizado escolar, os
cães procurando ossos por ofício, os amantes que deixam um motel, o bandido que
se esconde em sombras, carroceiros catando o lixo do lixo, beijos que encontram
lábios já de saudade ou lábios que se selam formalmente num até depois. Quando?
Quanto?
Mas a noite
tem tudo isso e os bêbados vagando, as prostitutas sem prostíbulos ou esquinas
fazendo sexo com quem procura amor, o apito do guarda noturno em si bemol,
pessoas uivando suas melancolias, bebês chorando serenatas, canções sendo
compostas por gênios que nunca terão aplausos, a lua num céu que só poetas
enxergam, estrelas que já passaram por ali, corujas procurando ninhos no
cimento e passos muito mais consistentes porque o escuro é mistério, medo,
dúvida e certeza.
A mulher que
eu amo é dia, mas é muito mais noite. É tudo e além. É sempre um querer sem
medidas, um relógio que eu queria atrasar para ter um pouco mais de alegria e adiantar
para ser eterno prazer.
É injusta a
divisão dia/noite tão equilibrada, porque a noite é agora e esperança, o dia é amanhã
e realidade.
A gente
sonha e vive muito melhor na noite que nunca acaba.
Fábio
Roberto
3 comentários:
Voce é foda!!! Lindo isso! Amei!
Eu aplaudo
Eu aplaudo
Postar um comentário