quinta-feira, 21 de março de 2013

Poema desesperadamente amoroso


Minha cama sem você, demoro tanto a sossegar.
Giro para um lado, viro-me, reviro e não te haver...
Cama tivesse quilometragem eu despertava noutro país,
de lá te mandava postal 'Meu bem, acabo de acordar,
mas o não te haver por perto parece-me um respirar
fora do alcance pulmonar. Tua distância, haja fôlego!' 
Mas aí você vem, eu, como estrangeiro, estou cá de visita,
passaram-se décadas o tempo que acaso eu não te veja.
Como radicado noutro país, exilado (saudade daqui,
que saudade de você!) o meu sotaque vai aos poucos
se diluindo no tanto silêncio de espanto que me beijas.
Ah como é bom estarmos! Ser, ser, sejamos, mas o estarmos...
Minha cama sem você.
Divido-me entre mim e quem eu era enquanto você.
Distribuo-me a mim do que porventura serei quando você.
E apenas consinto o agora porque, depois, você.



(Para Sarah)