Acordei,
mas ainda estou deitado
esperando
que venham me buscar.
Que me
enxuguem e me levem
para algum
outro lugar.
Tempo
louco, tempo louco...
Olha pra
cima, nada vejo.
Olho pra
baixo, não há nada.
Falo, mas
não escuto minha voz.
Falo alto e
ninguém ouve.
Falo claro
e não me entendem.
Falo cada
vez mais fácil e tudo se torna mais difícil.
E me
complico no nó que desembaracei.
E me
enforco.
E no sufoco
desse contratempo procuro um tempo
pra ser um
momento.
Onde andam
agora os ponteiros dos relógios?
Tempo
louco, tempo louco...
Não me
encaixo neste espaço largo.
Não suporto
este clima ameno.
Faço luz e
ela me foge para onde já está aceso.
Faço
imagens e elas se formam onde já está desenhado.
Faço o
lugar e ele se coloca onde já está povoado.
Pego
flores, me machuco.
Pego armas,
não me ferem mortalmente.
Vou em
busca de algo, não sei aonde.
A estrada a
tempestade a desfez.
Não posso
voltar. O vento apagou os meus passos.
Tempo
louco, tempo louco...
Eu me
chateio e paro.
Se me
aquieto me provocam.
Não aguento
se me queimam e não arde.
Corro e não
alcanço o cansaço.
Eu me
agonio e não alcanço o desespero.
Eu me
acalmo e ultrapasso a paz.
Entristeço,
mas é um choro sem sentido.
Ainda não
derramei todo o meu suor,
nem vi o
vermelho do meu sangue.
Não fiz nada.
Nem bem, nem mal. Nem mais ou menos.
E não
sorrio, se não sei o que é alegria.
Não me
afeiçoo, se não sei o que é amor.
E não
odeio, se perdi o coração por aí.
Tempo
louco, tempo louco...
Eu enlouqueço
e me vejo normal dentro da minha cabeça.
Mas não me
vejo no espelho e o arrebento,
para vê-lo
simples.
Eu
escorrego em meus sentimentos.
Eu explodo
dentro do meu corpo.
Não há o
que me segure nem onde segurar.
Não me
desmonto em pedaços, nem recolho as minhas sobras.
Só uma
parte do meu grito.
Sem medo ou
coragem, sem vácuo ou ar,
eu respiro
minhas decisões injetando em minhas veias incertezas.
Onde foram girar
os ponteiros dos relógios?
Tempo
louco, tempo louco...
Eu me toco
e não me sinto.
Canto e o
som não é música.
Escrevo,
mas não são palavras.
Será que
vivo e não há vida?
Será que
vivo e é só um sonho?
Pesadelo é
mentira. Realidade é desculpa.
Verdade eu
não sei o que é.
Nem sei o
porquê da minha confusão.
Esqueceu-me
a pergunta, agora que já a respondi
como os
trovões não existem após os raios.
Tempo louco,
tempo louco...
E já é
tarde, mesmo sendo manhã.
Choveram
ideias onde era impossível o raciocínio.
Deu-se
resposta onde não era dúvida.
Permitiu-se
a escolha onde não se sabia discernir.
E alagou-se
onde já havia transbordado.
Afoguei-me.
E minha mão
rígida, contraída, ficou pra fora
pedindo
socorro.
Precisava
agora e a apertaram tarde.
Quando
chegaram perto eu já estava longe.
Tempo
louco, tempo louco...
a John
Lennon, em 08 de dezembro de 1980, ao som de Imagine.