Eu não poupo
nada. Seja desespero, grana, cerveja ou raiva. Palavras, dúvidas, músicas,
certezas, pensamentos psicopatas ou filosóficos muito menos entronizo em mim.
Não me guardo esperança ou desistência. Vomito tudo isso do meu interior.
Defeco fé e descrença numa diarréia inacabável. Não consigo juntar pontos e
simpatias. Nem acumulo sorrisos ou amontôo melancolias. As minhas tristezas deixo
que jorrem em milhares de uivos pra lua. Memórias não me existem, pois as apago
cantando nos lugares mais insólitos. Histórias que vivo morrem rapidamente
porque não são economizadas. Os meus sonhos praticamente saem na urina quando rego
irresponsavelmente jardins, muros e postes. Orações e blasfêmias as executo até
me exaurirem. O tempo escasso eu o gasto inadvertidamente. Deixo sangrar cada
gota de sangue das feridas abertas na alma e no corpo.
Não poupo
coisa alguma ou qualquer pessoa porque posso não acordar amanhã. Fumo maços de
cigarros e injeto drogas compulsivamente. Ando kilometros mesmo que esteja
quase me arrastando em cansaço. Acabo com a última garrafa de whisky do mundo
porque não tem importância ter mais disso no próximo minuto. Outra chance,
outro pênalti ou mais uma vez de qualquer coisa não quero porque jogo tudo fora. Mais uma mulher não desejo porque tenho que me
exaurir de todas agora. Quem sabe um asteróide se colida com este planeta justamente
no dia seguinte a este e então este será o último dia, e eu não fiz tudo o que
podia, queria, desejava. Por isso sou assim intenso, inconseqüente, esquisito e
maluco queimando todos os meus talentos desta forma despojada. Paixões vêm, vão,
vêm, vão e nunca permanecem. Elas me abandonam no suor. Não sou começo, só o que
sempre acaba. Não sou rio, mas um vazamento de cano furado sem conserto. Sou a
poluição que vai contaminando o céu até desperdiçar todo o ar. Não me poupo
para o amanhã porque ele nunca irá chegar.
Fábio
Roberto
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