quarta-feira, 19 de agosto de 2015

ÊXTASE

Hoje pensei tanto na minha Morte que a estou beijando nos lábios molhados, carnudos e gelados.
A minha língua invade agressivamente a sua boca e o meu calor prevalece sobre o seu hálito devastador e petrificante. Que delícia sentir a sua salgada saliva misturar-se com a minha.
Que sabor austero e enfeitiçador tem a Morte.
Ela almeja dominar-me com sua volúpia, sugando-me pra dentro dela com o desejo de me aprisionar.
E eu permito que o faça porque está tão agradável e acolhedor ela bebendo toda a minha vitalidade, a completa energia da minha vida ora profícua ora inválida.

Só que eu preciso e estou muito mais sedento de veneno do que a Morte.
Eu a abraço forte e a faço sufocar.
Ela e só ela pode compartilhar tamanho prazer ausente de ar, sobrevivendo através deste ósculo doentio e insano que nos leva além de qualquer êxtase já experimentado por vivo ou morto.

Então afasto levemente os meus lábios dos lábios da Morte, agora molhados, carnudos e ferventes.
Permanecemos assim por muito tempo, com os rostos colados, absorvendo a brisa aquentada que exalamos.
Não sei quanto tempo, talvez uma eternidade.
Ou eu estou morto ou a Morte está viva!


Fábio Roberto

2008

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